Oi pesso@l, estou postando abaixo um artigo que publiquei no Portal REJUMA, sobre o 3º Congresso Internacional de Desenvolvimento Sustentável - Sustentável 2009.
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Por Bruno Pinheiro*, para REJUMA

"Ouvir, aqui na PUC, um empresário dizer que precisamos ser subversivos... Nossa, isso é um avanço!". Olhando agora para trás soa mesmo inusitado, como disse o economista e professor Ladislau Dowbor, quando o presidente da Phillips e chairman do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), Marcus Bicudo, afirmou que o mundo empresarial precisa ser subversivo e romper com a ordem, durante os "Diálogos Impertinentes: Um mundo em colapso ou uma oportunidade de mudança", finalizando o 3º Congresso Internacional sobre Desenvolvimento Sustentável, o Sustentável 2009.
Subversão é um termo que existe em quase todos os idiomas de origem latina e "está relacionada a um transtorno, uma revolta; principalmente no sentido moral". O seu uso moderno se "refere a tentativas de destruir estruturas de autoridade" (Wikipedia). O congresso (corporativo) não só terminou com alguém falando sobre subversão, como também começou assim. Logo na mesa de abertura do Sustentável 2009, que aconteceu de 4 a 6 de agosto, o diretor executivo da CEBDS, Fernando Almeida, e a secretária executiva do WWF Brasil também falaram de subversão. Como se o conceito tivesse permeado ciclicamente todo o evento.
A idéia-força é a de que não dá para questionar a realidade de passarmos por um processo de transformações ambientais e que este processo é reflexo de uma "crise de percepção". Esta crise está expressa no modelo produtivo, nas bases do sistema econômico, no comportamento altamente competitivo e irracional do mundo corporativo, na adoção do marketing ecológico como discurso destoado da prática e na falta de abertura de muitos empresários e gestores da iniciativa privada em debater o tema da sustentabilidade. Para o presidente da Phillips, Marcus Bicudo, "o setor empresarial ainda está engatinhando no debate sobre sustentabilidade".
Apesar das perspectivas positivas, do entusiasmo e da vontade que pude perceber em muitos ali presentes, realmente, na prática, o mundo corporativo precisa abrir os olhos e a mente. A sustentabilidade ali falada não é holística e sistêmica, multidimensional e complexa, sociobiodiversa e multicultural, transversal e estruturante, como o pensamento contemporâneo aponta. Em alguns momentos tive a impressão de uma abordagem muito simplista, como se sustentabilidade fosse um método, ou um instrumento de adequação dos processos produtivos em relação às demandas do mercado.
O termo desenvolvimento sustentável surge da crítica sobre os conflitos entre o modelo de desenvolvimento vigente e a integridade do meio ambiente. Foi usado oficialmente pela primeira vez em 1987, quando a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento da ONU (CMMAD) cunhou o conceito no relatório Our Common Future (Nosso Futuro Comum), conhecido também como Relatório Brundtland. Não passo obstante às críticas ao termo desenvolvimento sustentável, que para muitos pode representar a usurpação, manipulação ou descaracterização da idéia de sustentabilidade pelos detentores do capital; ou a redução e simplificação do seu significado prático.
Também concordo que é melhor e mais coerente falar em sociedades sustentáveis, debater e agir pela construção delas. Entretanto, ele serviu como base para a formulação da Agenda 21 Global, documento oficial da Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento das Nações Unidas, a Eco-92, no Rio de Janeiro. A Agenda 21 foi adotada por mais de centena de países e pressupõe a participação como conceito chave, embutindo a co-responsabilização do setor privado, do poder público e da sociedade civil no planejamento e execução de ações transformadoras dos processos sociais no rumo do tal desenvolvimento sustentável. O trabalho com a Agenda 21 Local, no Brasil, traz como base referencial a Carta da Terra, que fala do planeta Terra como uma comunidade de vida interdependente, para a construção de políticas públicas socioambientais locais integradas.
Entre pensar, falar, fazer e ser a solução
No contexto de crise ambiental pelo qual passamos é comum ouvirmos que é preciso surgir um novo tipo pensamento, ou como foi bastante dito durante o Sustentável 2009, "subverter a ordem". Mas como pontuou Ladislau Dowbor, "as soluções para os problemas nunca podem ser criadas pelo mesmo pensamento que os criou". E neste sentido, a senadora Marina Silva, que participava da mesma mesa que Dowbor e Marcus Bicudo, aposta na população. "São as pessoas que vão transformar em sustentáveis os governos e as empresas", falou.
Entretanto, em nenhum momento durante o Congresso houve conversas e debates a respeito de como as empresas constroem, com a participação da sociedade, novos rumos a trilhar. É neste sentido, e na linguagem dos próprios empresários, que concordo plenamente com a fala do presidente da Phillips citada acima. O mercado ainda acha que vai resolver os problemas do mundo sozinho. O setor corporativo não debate, nem incipientemente, a relação empresa/sociedade numa perspectiva dialógica. Ainda prevalece a visão da sociedade como clientela, mesmo quando o tema gerador é sustentabilidade.
Aqui no Brasil, Agenda 21 é uma ação formal de planejamento para o desenvolvimento sustentável, um programa do governo federal coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente (MMA). Há métodos e resultados, os processos locais, sobretudo, estão acontecendo e há experiências de participação da iniciativa privada bastante profícuas que, dado o contexto - Agenda 21 pressupõe participação dos três setores: sociedade civil, poder público e iniciativa privada; é ação governamental; está alinhado às discussões sobre desenvolvimento sustentável, tema do congresso -, naturalmente deveriam estar em debate. A secretária de Articulação Institucional do MMA, Samira Crespo, participou da mesa de abertura do congresso. Não assisti à abertura, então não sei se chegou a abordar o tema. Mas com certeza, se tocou no assunto, não ressoou.
A falta de debates sob o enfoque da democracia participativa no Sustentável 2009 demonstra como as empresas ainda precisam assumir uma postura mais humilde (por mais que as instituições economicamente mais poderosas do globo sejam corporações) e assumir o quanto contribuíram para a crise planetária. Aliás, só assumindo isto, é que chegarão à resposta para o que há pouco tempo começaram a conversar: como se portar e o que fazer perante as cobranças da sociedade em relação às questões socioambientais?
"Eles falam em trabalhar com a sustentabilidade, eles não falam em ser sustentáveis", comentou uma congressista acerca do discurso dos palestrantes. É preciso aprofundar realmente o debate sobre sustentabilidade. Só a partir deste movimento, de perceber a sustentabilidade como uma questão que envolve dimensões éticas, políticas, educacionais, ambientais, comunicacionais, culturais, sociais e econômicas, a constituição de fóruns públicos, onde comunidades possam construir conjuntamente com as empresas uma nova sociedade, mais justa, será considerada como proposta viável. Fica aqui a sugestão de subversão para o Sustentável 2011: dialogar com a sociedade.
(11/8/2009)
* Bruno Pinheiro (@lahun_men) é diretor de Comunicação da Ecosurfi, integra o iMaque.net - Soluções em Sustentabilidade e é um dos interlocutores da REJUMA no Comitê Assessor do Órgão Gestor da Política Nacional de Educação Ambiental
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